minha infância te condena

Como estou sem idéias para escrever sobre coisas atuais, e não ando fazendo nada de interessante, convido vocês a embarcarem na minha mente em busca de alguma furada na infância. *faz cara de balão mágico*

***PLIM***

Sim, eu era o menor e mais novinho da turma (8 anos), mas era estiloso e sagaz. Com minha bicicleta cromada de câmbio shimano 76 marchas e uma camiseta de goleiro do palmeiras, saí junto com a farofada para abafar as meninas.

Era uma noite quente no horrível litoral norte gaúcho. Fomos até a rua de trás e achamos umas meninas de bobeira. O galanteio começou, como todo galanteio infantil deve começar: "gordas, burras, inúteis, kajuru". Do outro lado, os adjetivos não vinham de forma diferente.

Eu, corajoso e destemido desde aquela época, não murmurei uma palavra. Não sei se era o nervosismo por estar diante do sexo oposto ou por estar enrolado diante de tantas marchas, mas fiquei mudo e travado. Assisti aquele diálogo inteligente e fundamentado, até que a turma encheu o saco e foi embora. SABE-SE LÁ POR QUAL MOTIVO, EU FIQUEI PARADO.

Tentei murmurar alguma coisa, questionar, dialogar, mas só saiu um sorriso tímido. Elas, já treinadas e com a catimba dos diálogos arrojados, dispararam:

-tá olhando o que guri?
-e essa bicicleta de bixa?
-e essa camiseta de palhaço?
-VAZA DAQUI SEU BOSTA!


Engatei a marcha mais forte da minha superbike e decolei de lá, segurando o choro, com uma única idéia na cabeça: "mulheres... não sabem porra nenhuma de moda e estilo."
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Bernardo Amorim | 11:58 |