essa é uma história de ficção

Adenor não conseguia mais transar, coitado. Seus sessenta e tantos anos pesava demais em suas costas já doloridas e levemente inclinadas, dando a ele uma aparência de cansaço extremo. Sua senhora não se preocupava com isso. Não com o fato dele ser meio corcunda, mas com a falta de sexo. Um novelo de lã e uma tv sintonizada no SBT já faziam sua cabeça. Terminar uma toalhinha era como um orgasmo.

Mas Adenor estava cansado dessa vidinha de merda. queria ação, aventura. Quando jovem comia muitas gatinhas, ninguém resistia ao meu papo... como pude chegar a isso? Lógico que na tenra juventude ele tinha todos os dentes na boca e os pêlos do nariz não apareciam como hoje. Nem os da orelha. E nem os das costas.

Resolveu enfim que precisava dar um basta nisso. Foi na farmácia e pediu a Tadeu, o farmacêutico, um remédio com base concentrada em Catuaba selvagem. Chegando em casa, tomou o vidro num gole só e pulou em cima da patroa.

Hoje Adenor mora sozinho. Sua patroa foi embora morar numa comunidade de senhoras que tricotam. Algo como uma república estudantil só que sem maconha, sexo e alegria. Apenas gatos, Agnaldo Timóteo e agulhas, muitas agulhas. Adenor comprou uma boneca inflável mas não tocou nela ainda. Deixou aquele objeto plástico de boca aberta e pernas escancaradas sentado na poltrona de sua senhora, voltado para a janela, como nos velhos tempos.
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Bernardo Amorim | 11:30 |