eu falo demais

Numa bela manhã de segunda-feira (sempre nesse dia miserável) de 1990, papai me levou para um passeio. Um lugar muito legal, tinha quadra de futebol e tudo mais. Lógico que eu gostei, não era muito comum papai vadiar para sair com seu rebento no meio da semana, ainda mais de manhã.

-gostou filhão?
-gostei!
-beleza, vai ficar aí então.
-êÊêÊêêÊ! Peraí, onde tu vai?
-trabalhar ué...
-e eu?
-ah, tu vai ficar bem, vai ficar na aulinha.

Sim, ele me matriculou na pré-escola e só me avisou no dia da aula. QUASE DENTRO DA AULA, para ser mais exato.

-vou ficar aqui sozinho?
-tem coleguinhas.
-e o sono?
-tu te acostuma a levantar cedo, vai ter o ano todo pra isso.

Enfim percebi que era aquela situação que separava os homens dos meninos meninos dos meninos mais novos e mijões. Outra cabeça e maturidade eram requisitos necessários para essa nova fase da vida. Então eu olhei para papai, olhei para a porta da sala, respirei fundo... e entrei imitando um macaco.

Era um homem, enfim.

Escrito e Publicado: quarta-feira, março 09, 2005 | 10:16. Tudo que você vai encontrar aqui é um texto solitário, porém sagaz e temperado. Suas opções são: comentar, recitá-lo em um sarau ou ficar aí­ perdendo tempo, já que não tem nada para fazer mesmo.