eu falo demais

Chovia muito no momento em que me mandava para a faculdade. resolvi primar pelo conforto e pegar uma lotação, porque dia de chuva o ônibus parece caminhão levando boi para matadouro. Todo mundo puto com papai do céu por fazer as nuvens chorarem, muitos nem sabendo que diabos estão fazendo ali, e alguns morrendo de medo de sair da caçamba e chegar ao destino.

Enfim, peguei a única vaga disponível na lotação. Fiz lero-lero com a língua para os que ficaram na parada, me desviei das pedradas e sentei do lado de uma moça que estava fazendo cálculos. O olhar que ela lançou provou que eu deveria ter sentado em outro banco (mas infelizmente não tinha nenhum vago, desculpa ;~), ou talvez ter esperado outro transporte.

Bem feliz peguei o "guia do mochileiro das galáxias" (que apesar de ser o livro mais fininho que estou a ler este ano, incrivelmente vem sendo o mais demorado, por força do destino) para ler enquanto o trajeto era percorrido lentamente pelo motorista. pois é, aí eu levei um COTOVELAÇO.

Não sei que gesto hostil eu fiz. Ainda pensei que ela queria me dizer algo, e resolvi perguntar que que foi que que foi que que háááá:

-oi
-hunpf.
-hum?
-*cotovelaço de novo*

Segurei o choro, esfreguei o braço e fui bem quietinho até a faculdade. Ela desceu no mesmo ponto que eu e me olhou atravessado. Pelo menos eu achei que era atravessado, fica difícil enxergar com os olhos cheios de lágrimas enquanto corre chamando pela mãe.

[20:27] Colega interrompe professor com pergunta besta.
[20:28] Professor erra a resposta.
[20:29] Turma toda cai de pau.
[20:30] Professor versa sobre compostura e comportamento.
[20:31] Professor versa sobre compostura e comportamento.
[20:32] Professor versa sobre compostura e comportamento.
[20:33] Professor versa sobre compostura e comportamento.
[20:34] Professor versa sobre compostura e comportamento.
[20:35] Professor versa sobre compostura e comportamento.
[20:36] Professor versa sobre compostura e comportamento.
[20:37] Professor versa sobre compostura e comportamento.
[20:38] Ofegante, professor termina a mijada.
[20:39] Silêncio geral.
[20:39] Colega pergunta se o professor não vai dar a resposta certa para a pergunta besta.
[20:40] Risadeira geral.

Tava eu lá né, super malandro, com minha camiseta do surf e minha calça com os fundilhos batendo na canela, tentando me enturmar na rave, quando ouvi duas pessoas de sexo indefinido conversando no meio do TUNTZ TUNTZ frenético:

-aí, os docinho tão tudo com o barman, é maior doidera saca esse trance *pula mexe braço balança fitinha*
-uhul *bebe agua transpira balança fitinha mexe cabeça*

Nem pensei duas vezes.

-Aí, me vê dois negrinhos e um branquinho. Se tiver quindim, tô dentro da loucura também.

Tô estagiando num lugar novo, e ainda não me encaixei muito bem no meu novo esquema. Volto antes mesmo que vocês aprendam o coletivo de borboletas.

Hoje eu vi um cavalo bocejando. Duas vezes.

-Caralho!
-Ei, não fala assim!
-Uma porra que eu não falo! Não viu a merda que eu fiz aqui? Caralho mesmo! Uma carroça de caralhos! E você que vá tomar no cú!
-Mas meu amigo, isso aqui é uma igreja...
-Foda-se!
-E você é o padre...
-Ah, para de viadagem você também. Padre não pode falar palavrão não, buceta!?
-Não enquanto está celebrando a missa, distribuindo a hóstia.

Não demorou nada e eu já estava dirigindo como se tivesse anos de prática. Desviava dos meteoros que caiam na rua e das vacas que constantemente cruzavam o caminho.

-BERNARDO!
-ahn? que foi?
-você dormiu. presta atenção que agora você vai sair com o carro.

Patrícia foi a minha instrutora na primeira vez que eu peguei num volante. Penso que ela talvez faça parte de alguma ONG que trata da triste vida das pessoas que não possuem a mínima coordenação para tratar de simples coisas da vida. Só assim para topar - melhor, ter a idéia - de me ensinar a mover essa caixa de metal sustentada por quatro rodas, um carro.

Fomos até a parte mais longínqua da cidade. Olhei para o fim da estrada e vi um precipício. Como o planeta é plano, ali devia ser onde termina a terra e os mais desavisados caem e somem para todo o sempre. Trocamos de lugar e eu assumi a cadeira do comandante.

-começa pisando na embreagem.
-beleza.

Apertei firme o volante. Olhei para a frente e calculei os riscos. Estava pronto.

-então, a embreagem.
-que que tem?
-pisa nela!
-claro.
-qual o problema?
-qual é a embreagem?

Um lapso muito comum. Deve haver uma porção de rapazes de 20 anos que nunca se interessaram pela magia de guiar um carro.

-agora solta a embreagem e toca a primeira marcha.
-...
-não sabe a primeira marcha também?
-só aprendi da terceira em diante.

Continua...

Comentário: "não gostei,pois fikei interessado numa luva de goleiro marca umbro que ele tinha,enviei e-mails e ele nao me respondeu e no dia cguint a luva ja nao tava no ML "

Réplica: Então estamos na mesma situação, ñ consegui contatao. Meu enteresse aqui é somente vender não deixo de responder nenhun e-mail, o e-mail que ele mandou deve ter ido prá china porque p/ mim ñ veio!

-Ai eu gosto de sorvete, abraço forte e praia. Odeio mentira, falsidade e inveja.

Me apresentem UMA maldita pessoa que diga "ah, eu adoro mentira, ser enganado é bom a beça!". Monga.

Sansão é uma figura ímpar no universo. Pelos seus feitos na infância deveria ter sido coroado com uma estátua de bronze na praça do bairro. Vamos a um release histórico das peraltices do rapaz:

Com seus 13 anos de idade, a meta era alcançar índice olímpico em alguma modalidade que não recordo agora. Mas era muito difícil manter um treino diário enquanto era CHUTADO por crianças de 7 anos. Sim, isso ocorria diariamente.
Numa dessas semanas da pátria, torrou tanto o saco dos professores para hastear a bandeira nacional que acabou ganhando o privilégio. A instrução era puxar a corda bem devagar, para que o nosso símbolo só estivesse lá em cima no final do hino... Resultado: A criançada nem tinha começado a se esgoelar cantando e a bandeira já estava no ponto máximo. Nem foi tanto pela trapalhada, o que fez o pessoal desopilar o fígado de tanto rir foi assistir o rapaz indignado dando CABEÇADAS no mastro. O hino ficou para o outro dia.
As notas mostravam que Sansão tinha alguma dificuldade com o aprendizado. E a reação quanto a isso mostrava que ele tinha dificuldades para aceitar. Sempre que vinha um resultado ruim, cascudos na cabeça seguidos de cabeçadas na mesa. Um dia, depois de tanta porrada conseguiu cortar a a testa e todo mundo riu (crianças são cruéis).

Nota mental: Redigir um quadro para o zorra total com um personagem inspirado no Sansão. Te cuida Joselito!