rá!
terça-feira, setembro 08, 2009
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“Inegável a existência de um vínculo afetivo e sexual, que perdurou, de forma intermitente, ao longo de quase oito anos. Amor intenso, dramático, muitas vezes exasperado, transtornado e até desesperado. Se o amor era assim sentido por ambos, não se sabe. Não há uma linha escrita pela autora/apelada a expressar tanta paixão. Mas o apelante, que é homem extrovertido, passional, externou, por mil modos, o que sentia e o quanto sentia. Não há como percorrer as mais de mil laudas deste processo se sete volumes, sem deixar-se tocar por essa paixão. Não sei por que, mas examinei os restos mortais desse amor com a sensação que guardei de uma versão filmada de Shakespeare, in Ricardo V. Depois da batalha travada pelo domínio da França, o monarca vencedor percorre a pé o campo da luta. O prado transformou-se num lodaçal, a chuva cai sem cessar. No solo, bandeiras, restos fumegantes de carros de combate, cavalos mortos, estandartes estraçalhados, feridos que clamam por atendimento e milhares de mortos. Dentre estes, nobres, amigos, parentes, servos, rapazes ainda imberbes que lutaram por um ideal para eles inatingível. O rei toma nos braços o corpo de seu melhor amigo e com ele completa a caminhada. Não há diálogos e o rei sequer monologa. Mas creio que, ao longo do percurso, uma pergunta o monarca não cessou de fazer a si mesmo: valeu a pena? Os personagens deste drama judiciário aí estão, felizmente, vivos e em condições de re-amar. E certamente se perguntam, diante da exposição quase pública das vísceras desse amor, se valeu a pena. Digo que melhor seria que tudo terminasse com a grandeza do imortal Agustin Lara. Na mansão que ergueu para ser o templo da consagração de seu amor pela belíssima Maria Félix, percebeu um dia, ao café da manhã, um rictus de desprezo no rosto amado. Levantou, subiu as escadarias de mármore, foi ao banheiro, colocou a escova de dentes no bolso e nunca mais voltou”. (Voto do Des. Eliseu Gomes Torres, na Apel. Cív. 598.051.357; in COAD ADV, Informativo, boletim semanal nº 36, 1998)".